19 julho, 2005

Janela aberta para o suicídio




A palavra suicídio (etimologicamente sui = si mesmo; -caedes = ação de matar) significa morte intencional auto-inflingida, isto é, quando a pessoa, por desejo de escapar de uma situação de sofrimento intenso, decide tirar sua própria vida.

Ontem, um jovem italiano de 26 anos, após anunciar várias vezes em seu blog, suicidou. De acordo com a imprensa italiana, ele descrevia suas frustradas tentativas, com detalhes como hora, local e métodos e os internautas participavam dando dicas para solucionar as falhas. Ele marcou a data e disse que a respeitaria. Matou-se antes.

Mais que o suicídio, choca-me a atitude das pessoas que acompanhavam de perto aquela história. Bellum omnium contra omnes. Faz lembrar-me de Hobbes: o homem é o lobo do homem. Para aqueles internautas, a angústia alheia não passava de diversão, passatempo. Será que Rousseau estava certo ao dizer que o ser humano nasce bom, mas a sociedade o corrompe? Que através da história torna-se mau com o objetivo de lesar o outro?Teria esse capitalismo selvagem nos corrompido e passamos, então, a viver numa selva de estranhos, de pessoas invisíveis, ou melhor, invisibilizadas e que não se olham, não se entrevêem? Que não percebem as angústias, senão as próprias? Ou pensemos pela ótica determinista em que não há curso de ação, pela qual as coisas são assim mesmo como estão postas, foram e sempre serão?

Nascemos livres, mas somos aprisionados o tempo todo. Será que essa não foi mais uma tentativa desesperada de libertação? Espiritualistas dizem que a morte não reduz o sofrimento, aumenta-o. Antropólogas/os e sociólogas/os mostram-nos que apenas seguimos rituais, normas, regras, inventadas por outrem que desconhecemos. Nem sabemos distinguir ao menos o que é certo ou errado ou, ainda, o que nos é bom ou ruim. Tergiversações, angústias, um desabafo enfim. Abaixo poesia de Reinaldo Ferreira.

"QUEM DORME À NOITE COMIGO
É MEU SEGREDO,
MAS SE INSISTIREM LHES DIGO,
O MEDO MORA COMIGO,
MAS SÓ O MEDO, MAS SÓ O MEDO.

E CEDO PORQUE ME EMBALA
NUM VAI-VEM DE SOLIDÃO,
É COM SILÊNCIO QUE FALA.
COM VOZ DE MÓVEL QUE ESTALA
E NOS PERTURBA A RAZÃO.

GRITAR, QUEM PODE SALVAR-ME
DO QUE ESTÁ DENTRO DE MIM,
GOSTAVA ATÉ DE MATAR-ME,
MAS EU SEI, QUE ELE HÁ-DE ESPERAR-ME,
AO PÉ DA PONTE DO FIM."

12 julho, 2005

República do mensalão, do dizimão....


Na República de Estatais a Preço de Bananas, vulgo era FH, se chamava propina e reza a lenda que foi paga para aprovar a emenda da eleição. Na governança de esquerda foi apelidada de mensalão pelo afinadíssimo, no que diz respeito à regência de denúncias, Pavarotti do Congresso. E, agora, até de cuecas e Cristos se faz, num bom caldeirão, caldos verdinhas, digo verdes e beem apimentados. E já se sente o cheirinho de queimado de trabalhadores, trabalhistas, progressistas, liberais... E no São João do Congresso, a quadrilha tá fervendo: na hora de punir os pecadores, o padre, digo o bispo se enrolou na oração. Mas a fé é cega e o dogma agora é o dizimão do João. Eita, que se essa moda pega nem Jesus salva!

05 julho, 2005

Habemus escândalos de batina silenciados



Mais uma vez, a estratégia da Igreja Católica de acobertamento de padres que abusam sexualmente de mulheres e crianças é utilizada para silenciar àquelas/es que querem diagnosticar a problemática, esmiuçar as denúncias e punir os criminosos. Afinal, o que está em jogo é a imagem da instituição.

Responsável pela pesquisa Desvelando a Política do Silêncio: o Abuso Sexual de Mulheres por Padres no Brasil, a socióloga da religião Regina Soares Jurkewicz foi demitida do Instituto Superior de Teologia da Diocese de Santo André, do qual foi professora por oito anos. Na notificação de dispensa, que recebeu em 21 de junho, estava escrito que o objetivo da demissão era “preservar o seu direito ao livre pensamento”. No entanto, demissão por divergência de idéias é considerada inconstitucional no Brasil. Para Regina, que é coordenadora da ONG Católicas pelo Direito de Decidir, essa é mais uma opção da Igreja pelo silêncio.

A pesquisa, levada a cabo pela socióloga, analisou 21 casos de mulheres, 17 delas menores de idade, e 68 de crianças que acusam sacerdotes de violência sexual. De acordo com o levantamento, as mulheres violentadas são empregadas domésticas, secretárias da paróquia ou meninas pobres da comunidade, as quais não têm plena consciência de seus direitos e são socialmente vulneráveis, o que faz com que elas desistam ou tenham dificuldades de acusar seus algozes.

Além disso, é sabido que quando as vítimas, particularmente as mulheres, denunciam os abusos cometidos pelos sacerdotes, vistos pelo prisma da santidade, da pureza e da divindade, acabam por virar rés. “Quando se fala em uma mulher que sofreu um abuso ou foi estuprada, a primeira idéia é de que ela seduziu o agressor”, salienta Regina, que explica haver a idéia de que o padre é imune ao desejo sexual.

O estudo ainda desvela as técnicas utilizadas pela Igreja Católica para proteger institucionalmente os agressores e ocultar seus crimes sexuais. Há suborno de vítimas, transferência para paróquias pobres e distantes, desqualificação das vítimas, valorização, promoção e homenagem aos criminosos, que assumem cargos que os qualificam e os blindam das acusações. Segundo a socióloga, em um dos casos, um bispo que chegou a ser processado por tentar subornar uma vítima foi promovido e hoje tem um cargo importante na CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). Fica claro que a cúpula da Igreja é condescendente com os abusadores e, em contraponto, pune ferozmente aqueles que rompem publicamente com o celibato, os quais são imediatamente demitidos.

A Igreja em sua defesa salienta, por meio da CNBB, que “não encobrimos nada, mas somos misericordiosos, como foi Jesus Cristo”. Que misericórdia é essa que condena crianças e mulheres às violências sexual e psicológica e promove a impunidade dos abusadores clericais, que impõe uma educação religiosa opressora, que dissimula, mente e esconde, que incentiva uma fé cega para seus crimes, que silencia atrocidades para salvaguardar uma imagem?