22 junho, 2005

Manifesto contra propaganda machista



Desde o início do século XX, a revista Cláudia reforça os estereótipos de gênero e coloca as mulheres numa posição de submissão, inferioridade, domesticidade e debilidade tanto física como intelectual. Exemplo de uma pérola: “Se desconfiar da infidelidade do marido, a esposa deve redobrar seu carinho e provas de afeto” (Revista Cláudia, 1962).

Em pleno séc. XXI, esse periódico, que possui cerca de 2,4 milhões de leitoras/os, tenta homogeneizar o "ser mulher”, desenhando o perfil das verdadeiras mulheres, que acabam por ser resumidas em meras consumidoras, fazendo funcionar poderosos setores industriais ligados às suas características "naturais": domesticidade, sedução e reprodução e futilidades (SWAIN).

Na sua nova propaganda, que teve um investimento de R$ 4,7 milhões, a revista Cláudia nos diz que a independência, para as mulheres, se resume a fazer comida com maior facilidade, no seu devido lugar: a cozinha. Com o slogan: “Ser independente sem deixar de ser mulher”, dito logo após uma mulher se remeter ao companheiro para que ele abra um pote, fingindo não ter conseguido fazê-lo, só reforça a idéia de que mulheres e homens devem continuar a ocupar lugares tradicionalmente traçados segundo sua "natureza" feminina ou masculina, "natureza" essa desconstruída pelo feminismo.

Essa publicidade quer dizer que para ser uma verdadeira mulher é preciso se mostrar frágil, dependente, submissa, bela e ainda ser a responsável pelos afazeres domésticos, enquanto o homem é representado como forte, independente e intelectualizado, já que ele utiliza um laptop enquanto ela cozinha.

Além disso, como afirma a doutora em história Tânia Swain, a ausência, nas revistas femininas, de debate político, de assuntos econômico-finaceiros, das estratégias e objetivos sociais, das questões jurídicas e opinativas é extremamente expressiva quanto à participação presumida, à capacidade de discussão e criação, ao próprio nível intelectual das mulheres que as compram.

Neguemos os estereótipos, as discriminações e a medicalização do discurso contra as mulheres: vamos fazer uma corrente nacional de boicote à Revista Cláudia, que nos quer afrontar a inteligência e pretende relegar as mulheres a papéis secundários, “biologizantes” e inferiores. Manifeste-se também junto a amigas/os, ao CONAR, ao DPDC, aos sites e à própria revista.


10 Comentários:

Às 2:46 PM , Anonymous Anônimo disse...

Acredito que não é um caso de machismo, mas sim um caso de como ganhar dinheiro. Sim: estamos falando de nicho de mercado. Simplesmente a referida revista ganha dinheiro vendendo para o público que não se importa ou que não vê mal algum nas idéias que são mostradas. Particularmente não irei cair neste erro de criticar a forma e o público que cada empresa atua e persegue. Se há realmente algo de podre nisto tudo não sei, mas sei que cada um tem o livre arbítrio de fazer o que desejar, ou seja, se existe a revista Cláudia é porque tem público para lê-la. Críticas e julgamentos a respeito??? Lêdo engando!!!! Eu estou fora desta e prefiro acreditar que as mulheres de hoje tem todas as informações necessárias e capacidade para julgar o que é certo e o que é errado, principalmente, quando se refere aos seus direitos. Se não reclamam é porque deve estar tudo bem, pelo menos para estas leitoras.
Cada um tem o que merece!!!!

Mais uma vez digo: Não gostam? Então não leiam!!! Mas saibam que existem pessoas que não se importam.

Grato

Fernando Lauande

 
Às 2:51 PM , Anonymous Anônimo disse...

Ah, tenho uma pergunta a fazer: Existe este negócio de "mulher moderna", mesmo! Que negócio é este? Como se define uma mulher moderna?
Será que é aquela que põe camisinha com a boca?
Bem, quer saber de uma outra coisa? Mulher moderna e homem modernos.... NÃO EXISTEM!!!!

 
Às 5:05 PM , Anonymous Anônimo disse...

Concordo com o Fernando que já comentou a matéria. Francamente, discutir "machismo" nos dias de hoje é "ser machista". As relações sociais hoje em dia estão muito próximas das leis da natureza, ou seja, vence o mais forte. Mulheres fortes e cientes de suas qualidades e habilidades estão acima desta chatice de machismo. Homens fracos e inábeis sempre serão subjugados pelas mulheres mais fortes que estão a sua volta. Se a mulherada quer ler Claudias, Novas, Marie Claires e coisas assim é porque querem se divertir com futilidades...e olha que as que estão comprando essas revistas são as que têm maior poder aquisitivo,( porque essas revistinhas são bem caras)portanto, em teoria, as mais "estudadas" e presentes no mercado de trabalho. Como dizia a "culta" Solange do BBB, a vida é delas, o "pobrema" é delas... e elas têm todo direito!!!!Ponto final!

 
Às 6:20 PM , Blogger Polyana Resende disse...

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Às 6:21 PM , Blogger Polyana Resende disse...

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Às 6:23 PM , Blogger Polyana Resende disse...

Primeiro: ao contrário do que afirmou o Fernando, muitas mulheres às vezes não julgam o que é certo ou errado por terem estereótipos, preconceitos e arquétipos muito arraigados, incorporados. E isso não é culpa delas, afinal, foram séculos e séculos de opressão e patriarcalismo, ressemantizados pelos discursos médico, filosófico, jurídico, literário e etc. Algumas apenas reproduzem o que foi passado de geração em geração. E ao feminismo e às feministas cabe abrir os olhos dessas mulheres, empoderá-las e alargar a sua percepção. A idéia é mostrar aquilo que está nas entrelinhas, o óbvio oculto, e desconstruir padrões hierarquizantes. E dentre esses padrões está o culto exagerado ao corpo feminino, que faz as mulheres se mutilarem para estar em consonância com o olhar masculino; padrão esse reproduzido pelas revistas aqui citadas.

 
Às 6:24 PM , Blogger Polyana Resende disse...

Segundo: discutir machismo, nos dias de hoje, é discutir uma política de inclusão social; rever essa legislação arcaica que aí está posta e a qual considera a mulher um ser inferior; é questionar estereótipos; é pensar ações afirmativas para dirimir a desigualdade social; é monitorar os preconceitos produzidos e reproduzidos pela mídia; é combater a violência doméstica contra as mulheres, a qual é considerada natural e aceitável, etc.

O mundo justo e equânime que penso e desejo, não é esse mundo onde impera o Darwinismo Social, a lei das selvas, até por que nos diferenciamos (não sei você) dos animais pelo intelecto, pela capacidade de discernimento. Aliás, sugiro que você procure ler (e muito!) e basear seus argumentos (que estão muito fracos) em reais pensadores, em vez de ter como parâmetro uma ex-BBB, que se destaca pelas tarouquices que fala.

 
Às 3:46 PM , Anonymous Anônimo disse...

Poly:

Como disse a vc uma vez: tenho receio que vc esteja subestimando ao mencionar que existem muitas mulheres que estão com o machismo erraigados e incorporados. Será que a quantidade de informação existente nos dias de hoje e com a evolução dos direitos da mulher, fruto da luta destas próprias mulheres, não deixa esta teoria enfraquecida??? Que possa existir, vá lá! Aceito, mas não acredito que tenham tantas mulheres assim. Já paramos para pensar qual é a quantidade de mulheres que estão felizes ou não com a sua condição? Será que estamos tentando impor um pensamento? Será que estas mulheres, ditas erraigadas pelo machismo, não desejam viver assim, mesmo depois de terem seus olhos abertos para a "realidade"?
Cito uma passagem da bíblia: "vade aos Gentios". Deixemos de lado os que tem opinião formada e vamos ao encontro dos indecisos.

 
Às 7:44 PM , Anonymous Anônimo disse...

Discordo da afirmação do Fernando...
Acredito que são conceitos machistas e que levam àquelas mais "desavisadas" ou "desinteressadas" na busca de seus direitos a não participarem da vida de seu país.
Tanto as revistas femininas e, também, as masculinas tendem a tratar os seus leitores como imbecis...
Não devemos esquecer as revistas que julgam trazer informações fidedignas sobre a situação política, escândalos, etc.
Estas tb são vilãs no processo de educação da sociedade...
Com matérias tendenciosas, com matérias machistas, etc. São poucas as revistas que lemos e podemos confiar...
Passamos por um processo de "exclusão informativa", onde o posicionamento contrário, feito por nós, a este tipo de prática, deve ser iniciado...
Entendo que os marketeiros fazem pelo dinheiro, mas por que não ganhar dinheiro com a informação, com o combate a práticas abusivas e contra a banalização das mulheres???
Futilidades e banalidades fazem parte, acho até que todos gostamos(de vez em quando!), mas temos o direito a informação e a igualdade...
Por último, gostaria de expressar o meu repúdio à citação de um programa(BBB) ridículo e "mongolizante"(desculpe a expressão)e a da "filósofa" que só veio mostrar às mulheres como não agir...
Espero ter contribuído...
Um bj gostoso pra vc Poly e um gde abraço a todas e a todos.

 
Às 12:17 PM , Blogger mi disse...

Olha, acho que o Fernando tem razão, quando diz que a revista está apenas procurando atingir o seu público...
Mas, honestamente, acho que desta vez a assessoria de marketing deles errou feio, porque conheço muitas mulheres que decidiram parar de ler a revista depois da propagandinha idiota do vidro de palmito...
Quem viver verá!!!
Micheline

 

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