20 maio, 2005

Rosa da palavra



A Terceira Margem do Rio
(Milton Nascimento e Caetano Veloso)I


Oco de pau que diz: eu sou madeira, beira
Boa, dá vau, triztriz, risca certeira
Meio a meio o rio ri, silencioso, sério
Nosso pai não diz, diz: risca terceira
Água da palavra, água calada, pura
Água da palavra, água de rosa dura
Proa da palavra, duro silêncio, nosso pai,
Margem da palavra entre as escuras duas
Margens da palavra, clareira, luz madura
Rosa da palavra, puro silêncio, nosso pai
Meio a meio o rio ri por entre as árvores da vida
O rio riu, ri por sob a risca da canoa
O rio riu, ri o que ninguém jamais olvida
Ouvi, ouvi, ouvi a voz das águas
Asa da palavra, asa parada agora
Casa da palavra, onde o silêncio mora
Brasa da palavra, a hora clara, nosso pai
Hora da palavra, quando não se diz nada
Fora da palavra, quando mais dentro aflora
Tora da palavra, rio, pau enorme, nosso pai

“...às vezes quase acredito que eu mesmo, João, sou um conto contado por mim mesmo. É tão imperativo...".

Primeiro o nome do blog. Retirado da música acima, referente ao conto “A terceira margem do rio”, é uma homenagem ao criador de uma rica e surpreendente língua, artífice das palavras inventadas e inventoras, o mais poético prosador brasileiro: o Rosa da palavra, João Guimarães, inspiração à toda prosa.... Espero que as literatices, a bibliofilia e, sem deixar de ser, os manifestos socio-psico-pessoais que por-virão sejam assemelhados em boa feitura... Segundo. Entonações, propósitos e silêncios: critiquem, confundam, sugestionem, “se compareçam”.