O á-bê-cê da política e o blá, blá, blá da imprensa
Já perceberam que ao se remeter às mulheres políticas a mídia sempre dá ênfase às características físicas, às roupas, à vida particular delas, sobretudo a amorosa? Cria-se uma “aura feminina” que as inabilitam para o exercício da política. Assim como Marconville em meados do séc. XVI, a imprensa tenta nos convencer de que as mulheres não têm aptidões para manejar e conduzir “coisas grandes e difíceis como costumes, religião, república e família, pois parecem ter sido feitas mais para a volúpia e o ócio que para tratar negócios de importância”. Assim aconteceu com Martha Suplicy, com Patrícia Saboya e com outras tantas. Agora, a mulher da vez é Dilma Rousseff.
Em uma das muitas leituras sobre a sua posse na Casa Civil, deparei-me com uma matéria que dizia: “Usava um terninho marrom claro, blusa branca, colar e brinco de pérolas combinando. O cabelo muito bem arrumado mostrava que a ministra tinha acordado cedo para se produzir. Na cerimônia de posse ainda estava impecável, mesmo com sua equipe garantindo que ela não deu nenhuma escapulida para ajeitar o cabelo durante o dia”. Ora, de que interessa aos leitores ávidos por informação as roupas, mais que normais, que a ministra usava? E no final, completou: “estava visivelmente nervosa durante seu discurso”. Sobre o seu histórico político, profissional e de militância nem uma linha sequer.
Na cultura política brasileira, há uma divisão entre masculino político e feminino social. Os adjetivos e as análises da imprensa sobre a escolha de Dilma Rosseff para a chefia da Casa Civil são os mesmos. Chega a ser enfadonha, cansativa, a falta de criatividade e a recorrente utilização de estereótipos para definir a futura atuação da primeira mulher a chegar a tão alto cargo no poder Executivo deste País. “Um perfil mais gerencial e menos político”. Não se fala outra coisa.
Mas o alcance do preconceito é bem maior. Escorregadas até na própria Esplanada dos Ministérios. Lá, como no resto do país, a política ainda é vista como santuário masculino, um espaço de virilidade que repele a dita “feminilidade”. O ministro da Cultura, Gilberto Gil, cantou aos quatro ventos, ou melhor, aos quatro poderes, que Dilma Rousseff, ex-ministra de Minas e Energia, "tem uma personalidade forte, um lado macho na forma de imprimir gestão". Segundo ele, "a expectativa geral da política e da sociedade brasileira é que governantes têm de ser muito machos".
Essa “virilidade”, a que se refere Gilberto Gil, não é senão a eficácia da ministra em enfrentar um desafio colossal, até mesmo épico:reformular o setor eletro-energético brasileiro e assegurar o planejamento da sua expansão com o incentivo de novos investimentos para evitar crises como o “apagão” enfrentado pelo país entre 2001 e 2002, além de instituir tarifas mais justas. Ações que não são sinônimos de masculinidade e sim de muita competência.
12 Comentários:
Caríssimas Polyana
Gostei muito do enfoque e acho importante esse tipo de observação. Tb percebi os comentários da imprensa e confesso que achei um absurdo, principalmente do nosso Ministro ( mesmo que eu tente entender q ele não fez por mau, porém não se expressou corretamente). seria interessante se tivéssemos como "alfinetar" esse fato.
Achei bem legal e produtivos todos os artigos.
Parabéns
Marcia Cristina
Bem, realmente não consigo ter uma visão tão pessimista com relação ao preconceito sitado por vc nesta matéria. Afinal os artigos que tive a oportunidade de lê-los não fizeram alusão ao "modelito" usado pela referida senhora, mas as suas carecterísticas político-profissionais. Assim sendo, sugiro 02 coisas a todos (as):
1 - Ignorem estes artigos ditos "preconceituosos" cujo cunho informativo está aquem do que desejamos. Além disso, posso afirmar que é isto que estes pseudos-jornalista desejam: publicidade!!!!
2 - Como consequência do primeiro: Procurem outras fontes de informação. Tenham a certeza de que existem várias outras de melhor qualidade.
Polyana, não posso deixar de fazer outro comentário: quanto a questão da competência da Sra. Dilma desejo deixar minhas ressalvas, pois não vejo nela este profissional de todo este gabarito, pelo menos no que tange a gestão do então ministério das minas e energia cujo trabalho teve apenas um ponto em questão na mídia: Quebra de contrato por parte do governo. Caracterísitca esta bem difundida neste país e que mexe profundamente com o que há de mais importante num governo e país: CREDIBILIDADE!!! Até quando iremos ver governos quebrando contratos a revelia???
Para concluir devo dizer que o Sr. Presidente da república trocou o "czar" pela "czarina" ao nomeá-la para Casa Civil, tornando a repetir o erro que trouxe à tona todo estes escândalos que hoje inundam as páginas dos jornais e noticiários das tvs: a prepotência e a arrogância de um partido que insiste em governar fechado em si mesmo achando-se acima do bem e do mal e dotado de uma competência dante nunca vista. Hora! que coisa mais pernóstica!!!
"O perigo não está em um determinda classe seja incapaz de governar. O fato é que nenhuma classe é capaz de governar sozinha."
John Edward Dalberg - historiador inglês (1834 - 1902).
Grato pelo espaço.
Fernando Lauande
Poly,
Excelente sua reflexão. É um absurdo que mulheres, por mais que sejam competentes e possuam uma carreira brilhante, são avaliadas segundo a roupa que vestem ou quanto tempo gastam arrumando o cabelo para falar em público. Por que falar de coisas banais ao se referir às mulheres? Por que ninguém comenta qual a marca do terno ou do sapato dos nossos parlamentares ou ministros – isso daria mais linhas nos jornais, já que são as grandes maiorias em nosso país...
A primeira notícia que ouvi sobre a substituição de Dirceu pela Dilma foi a seguinte: “Agora, o homem forte do Presidente é uma mulher” – tal afirmação parte do pressuposto que a chefia da Casa Civil, cargo de estreita ligação com o Presidente e com alta responsabilidade na condução política do país é “naturalmente” ocupada por homens... apenas uma excepcionalidade poderia deixar uma mulher chegar a alto posto como este... imaginem... uma mulher no cargo do “homem forte”! um absurdo! Melhor mesmo ocultar o espaço inaugurado por um espécime humano fêmea e sua competência, desviando o assunto... não se assuntem se as próximas notícias de Dilma forem: “A cor de batom da Ministra” ou “A marca da lingerie do ‘homem forte’ do Presidente” ou ainda “Ministra Dilma prefere Casa Civil na cor rosa”.
Saudações Feministas
Pri
Polyana,
Concordo contigo! Vi uma entrevista da Dilma na Globo News na qual ela respondia a todos esses ataques machistas da mídia. Teve que falar se era ou não "mulher-macho", se tinha pulso firme e era "delicada"... E como você mesma disse, pouco se falou do histórico profissional de Dilma no Rio Grande do Sul e também no outro Ministério...
Fê Grigolin
Polyana,
Concordo contigo! Vi uma entrevista da Dilma na Globo News na qual ela respondia a todos esses ataques machistas da mídia. Teve que falar se era ou não "mulher-macho", se tinha pulso firme e era "delicada"... E como você mesma disse, pouco se falou do histórico profissional de Dilma no Rio Grande do Sul e também no outro Ministério...
Fê Grigolin
Este não é um comentário sobre o blog da Polyana (que aliás está aprovadíssimo pelo meu ISO feminista 2005!!!), mas em relação a outro comentário, ou seja, ao de Fernando Lauande: que pena! Criticar as mídias referidas não significa, isso de forma alguma, deixar de lado as demais mídias ou fontes que por ventura não cometam as mesmas obstusidades (se é que a palavra existe). Acho que Polyana nos mostra como essas questões AINDA estão presentes e como isso é LAMENTÁVEL!
Na minha "humble" opinião, é lamentável que homens como vc sequer compreendam a profundidade da crítica feita. É ainda típico da categoria(não como um todo, mas parte dela), lo siento!
E mais, o pior é pensar que a política está esgotada pelas regulamentações do mercado: que pena, novamente! Até parece que o que há de mais importante na política do Brasil hoje é credibilidade!!! Meu caro, não sejamos simplistas, o Brasil é, delonge, o país mais corrupto do mundo, não é essa ação POLÍTICA que iria mudar esse descrédito.
Será que a quebra desse contrato, ou de qualquer outro neste governo é, deliberadamente, à revelia? Reflitamos um pouco mais, "shall we"?
Concluindo: seria o "erro" do caríssimo Sr. Presidente da República, como vc Fernando o chama, mais grave que "citação" com "s"? Reflitamos...
Sobre o espaço: "be my guest!"
Mariana Lima.
Muito legal! Precisamos sempre dessas lúcidas leituras !
Um abraço
Miriam Corrêa
Gente,
Olha que bacana: este artigo já foi publicado por três sites; do movimento de mulheres e de um partido político! Além disso, vcs estão comentando, debatendo e criticando os meus textos. Obrigada pelo carinho. Sou a blogueira estreante mais feliz que há!
Muito próprias as suas colocações...
A banalização da mulher aflige a sociedade como um todo e deve ser combatida.
Criticar é preciso, mas com argumentos fundamentados. Sem preconceitos de nenhuma natureza...
Desacreditar uma pessoa pelo fato de ser mulher é insano!!!
Desculpa Poly, mas...
Imprensa, bah!!!
Felipe
Quer coisa mais machista!!!!!!
Beijo gostoso...
Poly, o artigo está MUITO bem escrito. Vc sabe que sou sua fã, desde que vc ainda fazia faculdade e é muito legal ver que essa menina virou uma jornalista de verdade.
Quanto aos comentários sobre a escolha de Dilma Rousseff para a Casa Civil, eu já havia observado a mesma coisa que vc, assistindo ao "Saia Justa", no GNT. Houve um espaço para as 4 integrantes do programa darem suas opiniões sobre a Sra. Dilma e, com exceção da Mônica Waldvogel (não sei se é assim que escreve), todas comentaram apenas do seu estilo de vestir-se. Aliás, vamos abrir um parênteses: o que a Luana Piovani está fazendo naquele programa? A mulher é uma porta!!!
Olha, tenho que discordar com o Fernando, qdo ele diz que a sua visão é pessimista. Acho que a sua visão é de uma pessoa que está à frente do seu tempo e é graças a pessoas como vc que conquistas são feitas neste mundo. Mais uma vez, parabéns pelo blog!!!
Mi
PS: As fotos estão show!
Ah! Esqueci de assinar meu nome de verdade, hehe... É Micheline Carvalho
Poly,
S E N S A C I O N A L!!!!
Adorei o artigo!!! Somo a tudo que vc disse a seguinte nota: vc percebeu a linguagem "desinclusiva" da imprensa na cobertura da posse?
Globo, SBT, Bandeirante assim se referiam aos fatos: "novO titular da Casa Civil" "a Casa Civil tem UM novO MinistrO" é a total negação da linguagem posta ao fato de uma mulher ocupar tão alto cargo!!!
beijos,
Let
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