23 junho, 2005

O estrelato e seus protótipos de semideuses



É incrível como alcançar papéis de destaque (ou não) no horário nobre pode transformar um ignóbil alienado num pseudo-intelectual de enfeite com legitimidade para discursar. Tudo pelo ar-da-graça-global. Explico-me. Nesse fim de semana que passou, no dia 18 de junho mais especificamente, a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres promoveu o segundo Seminário Mídia e Mulher, lá em Sampa. O objetivo maior era debater a representação das mulheres na teledramaturgia, no jornalismo e na publicidade. Pois bem. Para compor a primeira mesa, foram convidadas as atrizes Tássia Camargo, Ingrid Guimarães e a escritora Fernanda Young. Engajamento, nenhum. Argumentos, fracos e superficiais, às vezes nem isso. E doses cavalares de auto-promoção. Nunca ouvi tanta bizantinice em tão curto espaço de tempo.

Ingrid Guimarães, ex-Confissões de Adolescentes e atualmente fazendo o papel de balzaca-desesperada-por-homem em Sob Nova Direção, promoveu sua peça, destacou que só era chamada pra fazer papel de dragão (por que será?), reforçou o estereótipo de que mulher bonita é necessariamente burra e que ela prefere ser a “inteligente” e finalmente desconstruiu a única coisa notável que já fez: os debates acalorados sobre aborto e drogas na peça voltada para os recém-egressos da infância.

Tássia Camargo – o último papel que fez foi de uma lavadeira em o Cravo e a Rosa –, ao defender a Globo, após uma crítica sobre à sexualidade exarcebada na emissora, disse que era pobre, comeu pão mofado (salientado por ela), assistia muito à TV e que nunca fumou, nem engravidou. Não precisa dizer nada, né?

Por fim, Fernanda Young, debatedora do Saia Justa e escritora d’Os Normais, auto-definida como moderninha, diferente e aquela que odeia estereótipos, reforçou todos eles. Em especial no que dizia respeito às mulheres, tema da discussão. Para ela, construir um arquétipo de mulher louca, histérica e desequilibrada é utilizar um recurso poético. É mole? Poesia agora significa preconceito, patriarcalismo e hierarquização dos sexos?

Nossos debates sem profundidade, a percepção estreita do mundo, os preconceitos, os modos de ser, agir, pensar, vestir, falar são, cada vez mais, reflexos dos intervalos entre um Plim-Plim e outro. Abaixo a televisão! Abaixo os globais sem conteúdo nos espaços de fala. E já que a literatura é uma expedição à verdade, façamos uma ode aos livros. Diga-se de passagem, aos bons livros, porque, como já dizia Schopenhauer, leituras ruins podem transformar um sábio num tolo.


3 Comentários:

Às 8:40 PM , Blogger mi disse...

Que bom que vc voltou a escrever no blog, minha amiga!
Tanto conhecimento e tantas idéias não podem ficar só nessa cabecinha... Seria muito egoísmo!!! Compartilhe mesmo com os amigos, que a gente fica aqui, na platéia, aplaudindo de pé... Clap clap clap clap...
Adooorei as imagens!
Parabéns,
Mi

 
Às 5:09 PM , Anonymous Anônimo disse...

Concordo plenamente... estamos num mar de imbecilidades de pseudo-intelectuais, em sua maioria uns tolos ,absolutamente perdidos no mundo, buscando sabe-se lá o quê. Tempos modernos? Midia circense? Pode ser, mas que é uma tristeza ver essas pessoas se pronunciando, isso é.

 
Às 7:13 PM , Anonymous Anônimo disse...

Parabéns...
Mostrar para os outros suas experiências e com tal propriedade!!!
GLOBO = alienar
Até quem lá trabalha faz jus à igualdade!
Continue assim: linda e inteligente!
beijo gostoso...
felipe

 

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