Janela aberta para o suicídio
A palavra suicídio (etimologicamente sui = si mesmo; -caedes = ação de matar) significa morte intencional auto-inflingida, isto é, quando a pessoa, por desejo de escapar de uma situação de sofrimento intenso, decide tirar sua própria vida.
Ontem, um jovem italiano de 26 anos, após anunciar várias vezes em seu blog, suicidou. De acordo com a imprensa italiana, ele descrevia suas frustradas tentativas, com detalhes como hora, local e métodos e os internautas participavam dando dicas para solucionar as falhas. Ele marcou a data e disse que a respeitaria. Matou-se antes.
Mais que o suicídio, choca-me a atitude das pessoas que acompanhavam de perto aquela história. Bellum omnium contra omnes. Faz lembrar-me de Hobbes: o homem é o lobo do homem. Para aqueles internautas, a angústia alheia não passava de diversão, passatempo. Será que Rousseau estava certo ao dizer que o ser humano nasce bom, mas a sociedade o corrompe? Que através da história torna-se mau com o objetivo de lesar o outro?Teria esse capitalismo selvagem nos corrompido e passamos, então, a viver numa selva de estranhos, de pessoas invisíveis, ou melhor, invisibilizadas e que não se olham, não se entrevêem? Que não percebem as angústias, senão as próprias? Ou pensemos pela ótica determinista em que não há curso de ação, pela qual as coisas são assim mesmo como estão postas, foram e sempre serão?
Nascemos livres, mas somos aprisionados o tempo todo. Será que essa não foi mais uma tentativa desesperada de libertação? Espiritualistas dizem que a morte não reduz o sofrimento, aumenta-o. Antropólogas/os e sociólogas/os mostram-nos que apenas seguimos rituais, normas, regras, inventadas por outrem que desconhecemos. Nem sabemos distinguir ao menos o que é certo ou errado ou, ainda, o que nos é bom ou ruim. Tergiversações, angústias, um desabafo enfim. Abaixo poesia de Reinaldo Ferreira.
"QUEM DORME À NOITE COMIGO
É MEU SEGREDO,
MAS SE INSISTIREM LHES DIGO,
O MEDO MORA COMIGO,
MAS SÓ O MEDO, MAS SÓ O MEDO.
E CEDO PORQUE ME EMBALA
NUM VAI-VEM DE SOLIDÃO,
É COM SILÊNCIO QUE FALA.
COM VOZ DE MÓVEL QUE ESTALA
E NOS PERTURBA A RAZÃO.
GRITAR, QUEM PODE SALVAR-ME
DO QUE ESTÁ DENTRO DE MIM,
GOSTAVA ATÉ DE MATAR-ME,
MAS EU SEI, QUE ELE HÁ-DE ESPERAR-ME,
AO PÉ DA PONTE DO FIM."