31 agosto, 2005

Camisinha com farpas para evitar estupro


Uma inventora sul-africana apresentou hoje uma camisinha feminina antiestupro, que se gruda ao pênis do agressor. A invenção tem o objetivo de reduzir uma das maiores taxas de estupros do mundo."Ninguém nunca fez nada para ajudar as mulheres, para que elas não sejam estupradas, e achei que já estava mais que na hora", disse Sonette Ehlers, 57, sobre o "rapex" (algo como "estuprex"), um dispositivo parecido com um absorvente interno (ou "tampax") que já causa polêmica no país.

As estatísticas policiais mostram que mais de 50 mil estupros são registrados por ano na África do Sul. Especialistas dizem que o número real pode ser o quádruplo disso, já que a maioria dos estupros em que os agressores são pessoas conhecidas, ou em que a vítima é criança, não é denunciada.

Ehlers disse que o "rapex" gruda-se à pele do agressor, dando à vítima tempo para fugir, além de ajudar a identificar os culpados. "Ele vai estar muito preocupado a essa altura", disse ela a repórteres em Kleinmond, uma pequena cidade turística cerca de 100 km a leste da Cidade do Cabo. "Garanto que vai doer bastante. Ele vai direto para um hospital." O dispositivo, feito de látex e fixado por farpas afiadas, só pode ser removido cirurgicamente. Assim, a equipe do hospital vai ficar sabendo do estupro e denunciá-lo à polícia, explicou a inventora.

O "rapex" também reduz a possibilidade de a mulher ficar grávida ou pegar aids e outras doenças sexualmente transmissíveis, já que funciona como uma camisinha feminina.
A África do Sul é o país que mais tem vítimas do HIV/Aids no mundo todo. Um em cada nove de seus 45 milhões de habitantes está infectado. Ehlers, que apresentou um protótipo do dispositivo na quarta-feira, disse que as mulheres já o testaram para ver se ele pode ser usado confortavelmente, mas que a camisinha nunca foi testada num homem de verdade, apenas num modelo de plástico. A produção deve começar no ano que vem.

Entretanto, o "rapex" causou preocupação entre ativistas antiestupro, que temem que ele faça aumentar a violência contra as mulheres. "Se a vítima estiver usando um dispositivo como esse, o agressor pode ficar ainda mais furioso, o que pode causar mais danos", disse Sam Waterhouse, da entidade Rape Crisis. Outras pessoas acusaram a camisinha de ser um método medieval e bárbaro, adjetivos que, para Ehlers, deveriam ser usados para o estupro.

Reuters

19 julho, 2005

Janela aberta para o suicídio




A palavra suicídio (etimologicamente sui = si mesmo; -caedes = ação de matar) significa morte intencional auto-inflingida, isto é, quando a pessoa, por desejo de escapar de uma situação de sofrimento intenso, decide tirar sua própria vida.

Ontem, um jovem italiano de 26 anos, após anunciar várias vezes em seu blog, suicidou. De acordo com a imprensa italiana, ele descrevia suas frustradas tentativas, com detalhes como hora, local e métodos e os internautas participavam dando dicas para solucionar as falhas. Ele marcou a data e disse que a respeitaria. Matou-se antes.

Mais que o suicídio, choca-me a atitude das pessoas que acompanhavam de perto aquela história. Bellum omnium contra omnes. Faz lembrar-me de Hobbes: o homem é o lobo do homem. Para aqueles internautas, a angústia alheia não passava de diversão, passatempo. Será que Rousseau estava certo ao dizer que o ser humano nasce bom, mas a sociedade o corrompe? Que através da história torna-se mau com o objetivo de lesar o outro?Teria esse capitalismo selvagem nos corrompido e passamos, então, a viver numa selva de estranhos, de pessoas invisíveis, ou melhor, invisibilizadas e que não se olham, não se entrevêem? Que não percebem as angústias, senão as próprias? Ou pensemos pela ótica determinista em que não há curso de ação, pela qual as coisas são assim mesmo como estão postas, foram e sempre serão?

Nascemos livres, mas somos aprisionados o tempo todo. Será que essa não foi mais uma tentativa desesperada de libertação? Espiritualistas dizem que a morte não reduz o sofrimento, aumenta-o. Antropólogas/os e sociólogas/os mostram-nos que apenas seguimos rituais, normas, regras, inventadas por outrem que desconhecemos. Nem sabemos distinguir ao menos o que é certo ou errado ou, ainda, o que nos é bom ou ruim. Tergiversações, angústias, um desabafo enfim. Abaixo poesia de Reinaldo Ferreira.

"QUEM DORME À NOITE COMIGO
É MEU SEGREDO,
MAS SE INSISTIREM LHES DIGO,
O MEDO MORA COMIGO,
MAS SÓ O MEDO, MAS SÓ O MEDO.

E CEDO PORQUE ME EMBALA
NUM VAI-VEM DE SOLIDÃO,
É COM SILÊNCIO QUE FALA.
COM VOZ DE MÓVEL QUE ESTALA
E NOS PERTURBA A RAZÃO.

GRITAR, QUEM PODE SALVAR-ME
DO QUE ESTÁ DENTRO DE MIM,
GOSTAVA ATÉ DE MATAR-ME,
MAS EU SEI, QUE ELE HÁ-DE ESPERAR-ME,
AO PÉ DA PONTE DO FIM."

12 julho, 2005

República do mensalão, do dizimão....


Na República de Estatais a Preço de Bananas, vulgo era FH, se chamava propina e reza a lenda que foi paga para aprovar a emenda da eleição. Na governança de esquerda foi apelidada de mensalão pelo afinadíssimo, no que diz respeito à regência de denúncias, Pavarotti do Congresso. E, agora, até de cuecas e Cristos se faz, num bom caldeirão, caldos verdinhas, digo verdes e beem apimentados. E já se sente o cheirinho de queimado de trabalhadores, trabalhistas, progressistas, liberais... E no São João do Congresso, a quadrilha tá fervendo: na hora de punir os pecadores, o padre, digo o bispo se enrolou na oração. Mas a fé é cega e o dogma agora é o dizimão do João. Eita, que se essa moda pega nem Jesus salva!

05 julho, 2005

Habemus escândalos de batina silenciados



Mais uma vez, a estratégia da Igreja Católica de acobertamento de padres que abusam sexualmente de mulheres e crianças é utilizada para silenciar àquelas/es que querem diagnosticar a problemática, esmiuçar as denúncias e punir os criminosos. Afinal, o que está em jogo é a imagem da instituição.

Responsável pela pesquisa Desvelando a Política do Silêncio: o Abuso Sexual de Mulheres por Padres no Brasil, a socióloga da religião Regina Soares Jurkewicz foi demitida do Instituto Superior de Teologia da Diocese de Santo André, do qual foi professora por oito anos. Na notificação de dispensa, que recebeu em 21 de junho, estava escrito que o objetivo da demissão era “preservar o seu direito ao livre pensamento”. No entanto, demissão por divergência de idéias é considerada inconstitucional no Brasil. Para Regina, que é coordenadora da ONG Católicas pelo Direito de Decidir, essa é mais uma opção da Igreja pelo silêncio.

A pesquisa, levada a cabo pela socióloga, analisou 21 casos de mulheres, 17 delas menores de idade, e 68 de crianças que acusam sacerdotes de violência sexual. De acordo com o levantamento, as mulheres violentadas são empregadas domésticas, secretárias da paróquia ou meninas pobres da comunidade, as quais não têm plena consciência de seus direitos e são socialmente vulneráveis, o que faz com que elas desistam ou tenham dificuldades de acusar seus algozes.

Além disso, é sabido que quando as vítimas, particularmente as mulheres, denunciam os abusos cometidos pelos sacerdotes, vistos pelo prisma da santidade, da pureza e da divindade, acabam por virar rés. “Quando se fala em uma mulher que sofreu um abuso ou foi estuprada, a primeira idéia é de que ela seduziu o agressor”, salienta Regina, que explica haver a idéia de que o padre é imune ao desejo sexual.

O estudo ainda desvela as técnicas utilizadas pela Igreja Católica para proteger institucionalmente os agressores e ocultar seus crimes sexuais. Há suborno de vítimas, transferência para paróquias pobres e distantes, desqualificação das vítimas, valorização, promoção e homenagem aos criminosos, que assumem cargos que os qualificam e os blindam das acusações. Segundo a socióloga, em um dos casos, um bispo que chegou a ser processado por tentar subornar uma vítima foi promovido e hoje tem um cargo importante na CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). Fica claro que a cúpula da Igreja é condescendente com os abusadores e, em contraponto, pune ferozmente aqueles que rompem publicamente com o celibato, os quais são imediatamente demitidos.

A Igreja em sua defesa salienta, por meio da CNBB, que “não encobrimos nada, mas somos misericordiosos, como foi Jesus Cristo”. Que misericórdia é essa que condena crianças e mulheres às violências sexual e psicológica e promove a impunidade dos abusadores clericais, que impõe uma educação religiosa opressora, que dissimula, mente e esconde, que incentiva uma fé cega para seus crimes, que silencia atrocidades para salvaguardar uma imagem?

29 junho, 2005

Tomem nota - Aos amantes da sétima arte






Esta é para os amantes da sétima arte. Ao nosso alcance uma filmografia a serviço da estética, das boas e novas idéias, das discussões,da sinuosidade dos traços e de muita inspiração surreal: o sonho, a fantasia, o grotesco, os não-atores, nós. Com estilo marcante, ora ácido, ora melancólico; o estilo “felliniano” de retratar, pensar, imaginar.

Acontece em Brasília, mais especificamente no Conjunto Cultural da Caixa, a Mostra Circo Fellini. É uma retrospectiva do artista Frederico Fellini, um dos mais cultuados cineastas atualmente. Serão exibidos 20 filmes até o dia 24 de julho, ou seja, quase todas as obras dele. E para assistir nostalgicamente a esses filmes de qualidade não custa caro, ou melhor, não custa nada: a entrada é franca. Haverá um filme por dia, sempre às 12h, 15h e 18h. Vale conferir, também, a exposição com outras obras do diretor, como fotografias e desenhos.

Programação

Mulheres e Luzes - Luci del varietà (1950)100min. Dias: 10/06 e 03/07
Abismo de um Sonho - Lo Sceicco Bianco (1952)90min. Dias: 11/06 e 05/07
Os Boas Vidas - Il Vitteloni (1953)100min. Dias: 12/06 e 06/07
A Estrada da Vida - La Strada (1954)100min. Dias: 14/06 e 07/07
A Trapaça - Il Bidone (1955)100min. Dias: 15/06 e 08/07
As Noites de Cabíria - La Notti di Cabiria (1957)120min. Dias: 16/06 e 09/07
A Doce Vida - La Dolce Vita (1960)180min. Dias: 17/06 e 10/07
Boccaccio 70 - Boccaccio '70 (1961)180min. Dias: 18/06 e 12/07
8 ½ - 8 ½ (1962)120min. Dias: 19/06 e 13/07
Julieta dos Espíritos - Giulietta degli Spiriti (1965)120min. Dias: 21/06 e 14/07
Histórias Extraordinárias - Histoires Extraordinaires (1968)120min. Dias: 22/06 e 15/07
Satyricon - Fellini Satyricon (1969)140min. Dias: 23/06 e 16/07
Roma de Fellini - Rome di Fellini (1972)120min. Dias: 24/06 e 17/07
Amarcord - Amarcord (1974)120min. Dias: 25/06 e 18/07
Ensaio de Orquestra - Prova d'Orchestra (1979)70min. Dias: 26/06 e 20/07
A Cidade das Mulheres - La Città delle Donne (1980)150min. Dias: 28/06 e 21/07
E La Nave Vá - E La Nave Va (1983)130min. Dias: 29/06 e 22/07
Ginger e Fred - Ginger e Fred (1985)120min. Dias: 30/06 e 23/07
Entrevista - Intervista (1986)120min. Dias: 01/07 e 24/07
A Voz da Lua - La Voce della Luna (1990)120min. Dias: 02/07

27 junho, 2005

O á-bê-cê da política e o blá, blá, blá da imprensa



Já perceberam que ao se remeter às mulheres políticas a mídia sempre dá ênfase às características físicas, às roupas, à vida particular delas, sobretudo a amorosa? Cria-se uma “aura feminina” que as inabilitam para o exercício da política. Assim como Marconville em meados do séc. XVI, a imprensa tenta nos convencer de que as mulheres não têm aptidões para manejar e conduzir “coisas grandes e difíceis como costumes, religião, república e família, pois parecem ter sido feitas mais para a volúpia e o ócio que para tratar negócios de importância”. Assim aconteceu com Martha Suplicy, com Patrícia Saboya e com outras tantas. Agora, a mulher da vez é Dilma Rousseff.

Em uma das muitas leituras sobre a sua posse na Casa Civil, deparei-me com uma matéria que dizia: “Usava um terninho marrom claro, blusa branca, colar e brinco de pérolas combinando. O cabelo muito bem arrumado mostrava que a ministra tinha acordado cedo para se produzir. Na cerimônia de posse ainda estava impecável, mesmo com sua equipe garantindo que ela não deu nenhuma escapulida para ajeitar o cabelo durante o dia”. Ora, de que interessa aos leitores ávidos por informação as roupas, mais que normais, que a ministra usava? E no final, completou: “estava visivelmente nervosa durante seu discurso”. Sobre o seu histórico político, profissional e de militância nem uma linha sequer.


Na cultura política brasileira, há uma divisão entre masculino político e feminino social. Os adjetivos e as análises da imprensa sobre a escolha de Dilma Rosseff para a chefia da Casa Civil são os mesmos. Chega a ser enfadonha, cansativa, a falta de criatividade e a recorrente utilização de estereótipos para definir a futura atuação da primeira mulher a chegar a tão alto cargo no poder Executivo deste País. “Um perfil mais gerencial e menos político”. Não se fala outra coisa.

Mas o alcance do preconceito é bem maior. Escorregadas até na própria Esplanada dos Ministérios. Lá, como no resto do país, a política ainda é vista como santuário masculino, um espaço de virilidade que repele a dita “feminilidade”. O ministro da Cultura, Gilberto Gil, cantou aos quatro ventos, ou melhor, aos quatro poderes, que Dilma Rousseff, ex-ministra de Minas e Energia, "tem uma personalidade forte, um lado macho na forma de imprimir gestão". Segundo ele, "a expectativa geral da política e da sociedade brasileira é que governantes têm de ser muito machos".

Essa “virilidade”, a que se refere Gilberto Gil, não é senão a eficácia da ministra em enfrentar um desafio colossal, até mesmo épico:reformular o setor eletro-energético brasileiro e assegurar o planejamento da sua expansão com o incentivo de novos investimentos para evitar crises como o “apagão” enfrentado pelo país entre 2001 e 2002, além de instituir tarifas mais justas. Ações que não são sinônimos de masculinidade e sim de muita competência.

23 junho, 2005

O estrelato e seus protótipos de semideuses



É incrível como alcançar papéis de destaque (ou não) no horário nobre pode transformar um ignóbil alienado num pseudo-intelectual de enfeite com legitimidade para discursar. Tudo pelo ar-da-graça-global. Explico-me. Nesse fim de semana que passou, no dia 18 de junho mais especificamente, a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres promoveu o segundo Seminário Mídia e Mulher, lá em Sampa. O objetivo maior era debater a representação das mulheres na teledramaturgia, no jornalismo e na publicidade. Pois bem. Para compor a primeira mesa, foram convidadas as atrizes Tássia Camargo, Ingrid Guimarães e a escritora Fernanda Young. Engajamento, nenhum. Argumentos, fracos e superficiais, às vezes nem isso. E doses cavalares de auto-promoção. Nunca ouvi tanta bizantinice em tão curto espaço de tempo.

Ingrid Guimarães, ex-Confissões de Adolescentes e atualmente fazendo o papel de balzaca-desesperada-por-homem em Sob Nova Direção, promoveu sua peça, destacou que só era chamada pra fazer papel de dragão (por que será?), reforçou o estereótipo de que mulher bonita é necessariamente burra e que ela prefere ser a “inteligente” e finalmente desconstruiu a única coisa notável que já fez: os debates acalorados sobre aborto e drogas na peça voltada para os recém-egressos da infância.

Tássia Camargo – o último papel que fez foi de uma lavadeira em o Cravo e a Rosa –, ao defender a Globo, após uma crítica sobre à sexualidade exarcebada na emissora, disse que era pobre, comeu pão mofado (salientado por ela), assistia muito à TV e que nunca fumou, nem engravidou. Não precisa dizer nada, né?

Por fim, Fernanda Young, debatedora do Saia Justa e escritora d’Os Normais, auto-definida como moderninha, diferente e aquela que odeia estereótipos, reforçou todos eles. Em especial no que dizia respeito às mulheres, tema da discussão. Para ela, construir um arquétipo de mulher louca, histérica e desequilibrada é utilizar um recurso poético. É mole? Poesia agora significa preconceito, patriarcalismo e hierarquização dos sexos?

Nossos debates sem profundidade, a percepção estreita do mundo, os preconceitos, os modos de ser, agir, pensar, vestir, falar são, cada vez mais, reflexos dos intervalos entre um Plim-Plim e outro. Abaixo a televisão! Abaixo os globais sem conteúdo nos espaços de fala. E já que a literatura é uma expedição à verdade, façamos uma ode aos livros. Diga-se de passagem, aos bons livros, porque, como já dizia Schopenhauer, leituras ruins podem transformar um sábio num tolo.